No bairro da Cremação, periferia de Belém do Pará, uma casa de dois andares com grafites representativos de mulheres negras se destaca, e é ali a sede do Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará, o Cedenpa. O mutirão de grafite foi realizado em 2012 e todo crédito vai ao coletivo Cospe Tinta da região de Belém. Mas a história do Centro começou há muito tempo atrás e o trabalho antirracismo extrapola os muros da casa.
Em 1979 havia muita gente inconformada com o cenário político daquela época, era ditadura militar. O sonho era tirar os militares do poder executivo e para isso as pessoas iam se organizando e reorganizando em entidades gradualmente. Assim, começaram a frequentar reuniões ligadas a construção da “volta à normalidade”, como conta Nilma Bentes, uma das fundadoras do Cedenpa. As primeiras grandes reuniões em Belém ocorreram na igreja de Santa Terezinha, no bairro do Jurunas, “Naquela época, muitos de nós iam, mas com um bocado de medo que ‘baixasse a repressão’, que era a expressão que se usava quando ‘os fardados’ invadiam reuniões de ‘subversivos’ (era assim que os militares os chamavam) e havia pessoas infiltradas e, portanto, um bom nível de paranoia corria nessas reuniões”, relata Nilma e completa: “Foi nesse tempo que nossos ancestrais deram um jeitinho de fazer umas pretas e uns pretos se encontrarem”. Foi nesse cenário que formaram um grupo para discutir e lutar contra o “preconceito racial”, era assim que as pessoas falavam na época, “racismo” era considerado uma expressão “muito forte”.
“preconceito racial”, era assim que as pessoas falavam na época, “racismo” era considerado uma expressão “muito forte”
“Sob o signo de Leão, trazendo nas entranhas as forças de Xangô, Orixá da Justiça, foi que começamos a construir o que passou a ser conhecido como Cedenpa – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará”, a fundação é marcada pela data de agosto de 1980, mas somente um ano depois, e com mais integrantes, foi que ocorreu uma reunião que discutiu e aprovou a Carta de Princípios, Estatuto e foi eleita a primeira coordenação do Centro.
Desde então o Cedenpa, uma entidade sem fins lucrativos ou vínculos políticos, vem contribuindo no processo de superação do racismo em todo o Pará, uma instituição referência no Estado que luta por políticas públicas adequadas e promove ações necessárias para construção da equidade racial através de muita persistência e resistência. E para dar continuidade e contribuir com o trabalho do Centro, em maio de 2016 jovens se organizaram para compor a Juventude Negra do Cedenpa, onde o genocídio da juventude negra é a principal pauta do coletivo.
Em 38 anos de atuação, o Centro já publicou vários livros, fez campanhas, esteve defendendo políticas públicas essenciais para o povo negro como cotas raciais nas universidades. Algumas publicações em livro podem ser compradas no Quilombo da República que fica localizado na Praça da República próximo a Av. Assis de Vasconcelos com a Av. Nazaré e abre aos domingos.
Para conferir mais sobre a militância do Centro acesse o site: www.cedenpa.org.br