Conheça o Projeto Afrocine

Conheça o Projeto Afrocine

Texto Daisy Feio

Com aproximadamente 8 meses de atuação, por meio de ​produções audiovisuais e artísticas com temáticas negras, o Projeto Afrocine​ fomenta as ​discussões sócio-raciais​, entre crianças e adolescentes das periferias de Belém e região metropolitana. Plantar a semente é o que a coordenadora Thaise Vieira junto a Camille Malcher e todos os integrantes da iniciativa fazem, por meio do projeto. A semente antirracista e do empoderamento negro é plantada em cada sessão exibida nas comunidades.

Segundo a coordenadora​, o projeto surgiu a partir da união de amigos e tem dois objetivos principais. O primeiro deles é ressignificar a vida das pessoas, “você faz uma mudança individual na vida ​de quem​ tá ali ​participando e assistindo”, e também promover uma​ modificação estrutural na comunidade que participa das sessões, junto às crianças e adolescentes, público principal do Afrocine.

“você faz uma mudança individual na vida ​de quem​ tá ali ​participando e assistindo”

Thaise conta como ​as ações funcionam​: centros comunitários dos bairros e coordenações de escolas públicas, entram em contato por meio das redes sociais do Afrocine. A partir daí, é marcada uma reunião entre os ​membros​ do projeto e ​os representantes desses espaços​, para assim, os integrantes terem conhecimento sobre as demandas daquela localidade e depois escolherem qual a melhor metodologia para usar com as crianças e adolescentes,​ quais temas debater e quais instrumentos utilizar​. Normalmente, as demandas são: ​questões de identidade​ (as pessoas não se reconhecem enquanto negras) e casos de racismo. Em algumas ocasiões, a própria ​equipe​ do Afrocine entra em contato com a comunidade para levar uma sessão ao local, como foi a edição realizada na Marambaia.

“a gente está em um momento​ em que precisamos trabalhar com a criação de Quilombos Urbanos”

“Nosso foco principal são as crianças, porque elas são a nossa base”. Segundo a coordenadora, os negros que têm um nível de informação maior, devem repassar o conhecimento para os seus, neste caso, para as crianças pretas. Ela ressalta “a gente está em um momento​ em que precisamos trabalhar com a criação de Quilombos Urbanos”. Se as crianças negras entenderem tudo que o povo preto passa e se empoderarem, aumentarem sua autoestima (processo pelo qual a maioria dos adultos negros não passaram), elas serão adultos pretos muito mais conscientizados. Ou seja, para mudar a realidade racial é preciso trabalhar com os menores.

Camille e Thaise contam um pouco sobre ​as experiências​ com os pequenos – para dialogar com crianças é preciso conquistar a confiança delas, criar um vínculo, até que em determinado momento elas vão perceber o quanto são parecidas com a gente -. A vivência com as crianças da família soma na hora de dialogar com os pequenos que participam das sessões do projeto. “O feedback deles é instantâneo”, ​afirmam​. Os meninos e meninas se veem nos desenhos dos caderninhos distribuídos, nas tias e nos tios do projeto (como as crianças chamam os integrantes do Afrocine) e comentam sobre estas questões. A participação e o entrosamento delas nas atividades realizadas é grande. ​A equipe​, mostra o quanto isso é importante para a formação de uma consciência política e crítica nas crianças.

Um dos objetivos futuros do Afrocine é ter uma sede, para que ​as pessoas pretas possam visitar, aprender sobre a ​cultura afro-brasileira​, um lugar para se sentirem em casa. Além disso, a intenção é que projeto possa se tornar autossuficiente​, ou seja, que​ tenha​ condições de custear suas sessões​. Thaise ressalta a importância ​das ações do projeto​ e​ a transformação​ que ele possibilita na vida das crianças e ​de todos os envolvidos, “o Afrocine é​ um projeto de formação e quando a gente trabalha com isso​​, trabalhamos com aprendizagem e ela​ é uma via de mão dupla. A gente tá aprendendo e ensinando e a troca tá rolando o tempo todo”, completa.

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